Os sete loucos(El comienzo de la traducción de una novela de Arlt)

«Los siete locos» es una de las novelas centrales de la literatura argentina, la irradiación de su influencia ya sobrepasó la fronteras de su país de origen y es revisitado por lectores de distintas lenguas. La labor de traducción es incierta, no se sabe si el agotamiento habrá de exterminar un proceso o si el traductor culminará con esa extraña y silenciosa labor. Nos complacemos en presentarles e primre aparte de «Los siete locos» en portugués, traducido por Barbara Lopes quien aún se encuentra trabajando en este libro y nos irá entregando los resultados a medida que avance en su empresa.

A surpresa

Ao abrir a porta da delegacia, com seus vitrais japoneses, Endorsain teve vontade de retroceder, mas já era tarde.

O diretor o aguardava. Um homem de baixa estatura, gordo, sua cabeça parecia a de um javali; cabelo grisalho, cortado à Humberto I e um olhar implacável filtrado pelas pupilas cinzas como as de um peixe. Gualdi, o contador, pequeno, magro, pegajoso, de olhos atentos e o subgerente – filho do cabeça de javali – um moço bonito, de 30 anos, cabelos grisalhos e aspecto cínico, sua voz é áspera e seu olhas é fixo, como o de seu pai. O diretor inclinado em cima de umas planilhas, o subgerente recostado numa poltrona balançando a perna sobre o encosto e o senhor Gualdi respeitosamente de pé, junto à mesa do escritório. Nenhum dos três personagens respondeu à saudação de Endorsain. Mentira, o subgerente levantou a cabeça.

– Recebemos a denúncia de que o senhor é um trapaceiro, que nos roubou 600 pesos.

– E sete centavos – agregou o senhor Gualdi enquanto um secava o documento com a assinatura do diretor. Foi quando este, com muita dificuldade, levantou os olhos. Com os dedos atados entre os botões do colete, o diretor dirigiu a Endorsain uma mirada sagaz, com as pálpebras semiabertas, a aproveitava a ocasião para examinar o semblante do acusado, que permanecia indiferente.

– Por que está tão mal vestido?

– Não ganho nada como cobrador.

– E o dinheiro que nos roubou?

– Eu não roubei nada. Isso é mentira.

– Então… tem condições de prestar contas?

– Se querem, hoje mesmo, ao meio-dia.

A resposta o salvou por um tempo. Os três homens consultaram-se com um olhar e, por fim, disse o subgerente sob a proteção do pai:

– Não… tem tempo. Pode trazer até amanhã, às 15 horas. Traga as planilhas e os recibos. Pode ir.

Ficou tão surpreso com essa resolução que permaneceu imóvel, de pé, olhando os três. Sim, os três. Olhava o senhor Gualdi que tanto lhe havia humilhado apesar de ser um socialista; o subgerente que, insolente, fixou o olhar no nó desfeito de sua gravata e o diretor, com sua cabeça de javali imóvel, que lhe dirigia um olhar cínico e obsceno através de suas pálpebras semiabertas.

Endorsain continuava ali, imóvel. Queria dizer algo, algo que os fizessem compreender toda a desgraça pela qual passava sua vida. No entanto, permanecia assim, de pé, triste, sentindo suas costas arquearem na medida em que o tempo passava. Nervoso, torcia o cabo do guarda-chuva negro. Tinha o olhar cada vez mais perdido e triste. Bruscamente, perguntou:

– Então, posso ir?

– Sim!

– Não… Entregue os recibos a Suárez e amanhã, às 15 horas, esteja aqui com tudo. Sem falta.

– Sim, tudo… E virou-se. Saiu sem se despedir.

Desceu a rua Chile até Paseo Colón. Sentia-se desnorteado. O sol clareava os asquerosos interiores da rua em declive. Muitos pensamentos passavam pela sua cabeça, tão desiguais que o trabalho de classificá-los levaria horas.

Mais tarde lembrou-se que não lhe ocorrera perguntar quem havia feito a denuncia.

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One response to “Os sete loucos(El comienzo de la traducción de una novela de Arlt)”

  1. Enrique Pagella says :

    Increíble; suena como una tango en portugués; la alegría brasilera y la tristeza porteña juntas por medio de Arlt. Me deja sin palabras. Felicitaciones a la traductora y a mis amigos de Mil Inviernos.

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